Estamos tratando de uma sociedade capitalista e com maus hábitos, hoje o capitalismo praticado não respeita uma economia sustentável e eficaz. Mas isso não é somente culpa das empresas, pois trata-se de uma reprodução comportamental humana, o egoísmo e o ato de tirar vantagem, vemos as mesmas características nos clientes e nos consumidores.
Há muito tempo foi percebido o problema desse comércio “canibal”, o mal que as empresas e a sociedade alimentam com esse estilo de mercado, assim começaram a surgir novos formatos de comércio para tentar solucionar o problema. Entretanto, cada empresa tem a liberdade de escolher sua forma de trabalhar, o tipo de cliente, como negociar com fornecedores, mão de obra, objetivos, princípios.
O conceito de Comércio Justo surgiu em meados dos anos 60 e ganhou força em 67 graças ao Fair Trade Organization na Holanda, de início foi com o mercado de café e o artesanato. O movimento era focado especialmente na exportação dos países em desenvolvimento para os países desenvolvidos, com o princípio comercial de que o produtor recebe a remuneração justa por seu trabalho.
Hoje, o Comércio Justo se estendeu para várias áreas, mas mantendo o mesmo princípio da remuneração justa, do preço final correto, da preocupação do bem estar de todos que participam do processo de desenvolvimento do produto. Aos poucos, consumidores e empresários estão criando consciência que a maneira ainda praticada por muitas empresas é totalmente prejudicial à sociedade, aos muitos países de terceiro mundo e pessoas - todos estão sendo diretamente prejudicados com essa exploração financeira, comercial, ambiental e física que há anos vem sendo praticada. Ainda precisa aumentar muito a conscientização, mas há novos empresários e empresas que já perceberam o benefício do Com ercio Ju sto e estão fazendo sua parte e tentando reeducar seus clientes comercialmente.
No mercado de moda por exemplo, vemos cada vez mais consumidores preocupados com o tipo de mão de obra usada na produção das roupas e acessórios. A origem da matéria-prima está sendo questionada, onde é produzido, quais as condições de trabalho das pessoas envolvidas. Já que escândalos de mão de obra escrava foram os mais vistos nessas últimas duas décadas, assim como maus tratos de animais para a obtenção de alguns tipos de matéria-prima.
As pessoas estão ficando mais conscientes e mais informadas sobre a origem do que consomem. Assim surge um novo perfil de consumidor, pois passam a cobrar das marcas um posicionamento correto em relação ao processo de produção, na forma como lidam com as pessoas que executam o trabalho, a diminuição da exploração comercial dos trabalhadores e a matéria-prima. Os consumidores também passam a questionar os preços e o descarte tão rápido das coleções.
Muitos consumidores ainda estão mal acostumados, outros ainda não desenvolveram a consciência do impacto social que todos esses anos de exploração causaram e ainda causarão na sociedade, no planeta e no comércio.
O Comércio Justo tem como objetivo aumentar a receita dos produtos, por meio do aumento do pagamento sobre a produção, em vez de apertar ou diminuir os preços durante a negociação com fornecedores e mão de obra. Com isso, a marca cresce, os fornecedores também crescem e todos envolvidos ganham.
Hoje, o Slow Fashion tenta praticar todos os conceitos do Comércio Justo, com sua crença de produtos com maior durabilidade, de uma moda mais sustentável, preocupação social e bem estar de todos envolvidos na cadeia produtiva. No entanto, ainda precisa haver uma reeducação de muitos consumidores, pois na hora da compra, muitos ainda presam por pedir desconto, precisam sentir que estão levando alguma vantagem, não se preocupam com o preço real do produto, que no preço está embutido: mão de obra, matéria-prima e, também, custo fixos como: água, luz, deslocamento, alimentação, caixa para novos desenvolvimentos e que o preço é para todos os envolvidos possam ter uma vida digna.
A maioria dos consumidores estão acostumados com o lucro abusivo de algumas marcas, preços falsos para poder dar descontos aos clientes, as liquidações promovidas quase que mensal, a troca desenfreada de coleções, isso tudo é resultado de não se trabalhar com o preço real das coisas.
O Comércio Justo mostra que essa guerra de preços, o desconto tanto desejado por cliente final em loja ou do empresário ao negociar com fornecedores e mão de obra é prejudicial para o mercado, pois cria o hábito de preços falsos ou a exploração de menos favorecidos, pois o desconto dado será pago por alguém envolvido na cadeia comercial, ou será pelo cliente que não pede o desconto ou será por aquele funcionário que mais precisa.